5 ou 6 dicas para não se irritar na hora de debater política


Discutir política com alguém que é ideologicamente diferente pode ser um verdadeiro desafio. Mas quando nos propomos verdadeiramente a isso pode ser um aprendizado e tanto.

Contudo, ainda que a política não seja uma ciência exata, existem limites que devem ser observados sob o risco de cairmos em incoerências. Então, neste texto vou listar algumas das coisas que aprendi ao longo dos anos que me ajudam muito nos debates.

1. O respeito ao Estado Democrático de Direito

Principalmente das eleições de 2018 para cá, ganharam força alguns movimentos que colocam em colocam em cheque o estado democrático de direito, aliás, estes movimentos tem este objetivo mesmo. Pedidos de fechamento do congresso, do STF, intervenção militar, volta da ditadura e afins não são coerentes com quem deseja discutir política. E isto se dá por um motivo simples, sem o Estado Democrático de Direito o debate não existe. Podemos sim estar descontentes com as instituições, ou com os rumos do país, mas qualquer sistema, que não o democrático, proibe o contraditório. E é exatamente isto que é o famoso e tão falado "Estado Democrático de Direito", um estado no qual há pluralidade de pensamento (democrático) e todos tem o direito de se manifestar e de se colocar como ma opção no pleito eleitoral. 

Desta forma, quando quisermos defender o fechamento do STF, por exemplo, ou devemos assumir nosso viés autoritário e ditatorial, ou então, devemos refletir e propor uma nova forma de composição da Suprema Corte e seu modo de funcionamento.

2. Entender que existe muito além de esquerda e direita

A profunda polarização do debate no Brasil nos resumiu a direita vs esquerda, facista vs comunista, quando isto é uma falácia enorme. O eixo direita e esquerda não é binário, ele pode, no máximo, ser visto como uma régua, em que algupem pode posicionar-se em um extremo, ou em outro extremo, ou nos infinitos milimetros ao longo dela. Desta forma, há a régua conservador/progressista, estadista/liberal, etc. E obviamente cada pessoa deve se "posicionar nestas réguas" em cada assunto ou tema debatido. Alguém que é a favor do porte de armas, pode ser a favor do aborto e contra a legalização das drogas. Assim como alguém que é a favor das privatizações, pode também ser a favor da pena de morte, e assim por diante. Mas infelizmente, é comum nos venderem o pacote completo, não nos dando margem para nos posicionarmos de maneira diferente, como se tivéssemos que estar sempre no mesmo milímetro em todas as réguas. 

3. Debater ideias e não pessoas

O debate de ideias sempre é rico e agregador. Entretanto tenho certeza que alguém já se deparou com aquelas perguntas: "E o Lula?", "E o Queiroz?", "E o PT?". Obviamente que estas perguntas carregam em si ideias, e, se o caso for debate-las, OK! Mas, em geral, vemos as pessoas discordando de A ou de B, independentemente das ideias ali colocadas. Ou ainda pior, usam como argumento para justificar seus próprios erros; eu ou meu grupo fazemos isso porque sempre foi assim, fulano fazia assim. 

Analisar as ideias, as políticas públicas, as ações do governo são sempre mais produtivas.

4. Quem discorda de você não é pior do que você

Em política, o convencimento é fundamental. Devemos usar de todos os argumentos justos possiveis, entretanto, colonizar o outro é uma injustiça. Subjulgar os outros como menores, mais burros, ou piores pelo simples fato de discordarem de você é diminuir o outro, se diminuir e diminuir o debate. Claro, isso quando o opositor apresenta argumentos ideológicos, jurídicos, políticos sólidos e não apenas bravata. Quando o opositor apresenta argumentos frágeis ou falaciosos, cabe a nós ao longo da discussão desmontar tais argumentos.

5. Usar a liberdade de livre expressão como justificativa para não ouvir o outro

Ultimamente temos ouvido muito a frase "esta é a minha opinião, me desculpe.". UMA OVA, não desculpo não. Quem tem o compromisso com a construção de um debate público deve sempre considerar que sua opinião é passível de revisão. Pode ser aprimorada, ajustada, melhorada e até revogada. Podemos mudar de opinião, é justo. Mas não podemos ignorar a fala de outro sob o argumento de que eu tenho liberdade para pensar o que eu quiser. A liberdade lhe é sempre dada, é um direito. Todavia, utilizar-se disto para consolidar uma posição que nos é difícil sustentar argumentativamente, é sandice.

Este ano de 2020 teremos eleições municipais. Haverão debates e discussões sobre os mais variados temas. Estas 5 observações que trouxemos poderão lhe ajudar muito a "sobreviver" a este período, ou ao menos, evitar que alguém do grupo da família no Whatsapp saia. 

E por fim, uma última dica é: use perguntas. Nem sempre conhecemos os temos debatidos, nestes momentos é fundamental perguntar ao seu opositor "Mas como você chegou nesta conclusão?", "O que te fez pensar assim?". E a partir daí ouvir atentamente as respostas para buscar incoerências, lacunas ou falhas no discurso para que nós mesmos possamos formar a nossa opinião. 

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